Apesar de a inclusão social e a cidadania serem direitos garantidos na Constituição Federal desde 1988, as mudanças culturais em uma perspectiva inclusiva ainda estão ocorrendo lentamente na sociedade e dentro das escolas.
Nas últimas décadas, o assunto vem ganhando cada vez mais fôlego com debates sociais, impulsionando políticas públicas e o desenvolvimento de tecnologia na educação aplicada à inclusão.
Podemos chamar de inclusão escolar a garantia de acesso, permanência e aprendizado de todos e todas nas escolas. Ou seja, uma escola inclusiva é aquela em que todas as pessoas se sentem parte do espaço, se sentem confortáveis ao frequentar o ambiente, independentemente de cor, gênero, biotipo ou necessidades específicas, entre outros pontos, e onde todas as pessoas têm condições para aprender.
Para uma escola ser inclusiva, portanto, há a necessidade de garantir espaço físico, estrutura, metodologias e estratégias pedagógicas adequadas, currículo bem estruturado, recursos, organização, apoios escolares, além de outros elementos.
Diante dessa amplitude, neste artigo falaremos sobre o modo como recursos tecnológicos podem promover e potencializar a inclusão das pessoas com deficiência (PcD), transtorno de desenvolvimento ou altas habilidades.
Marta Gil, socióloga e especialista em inclusão, em entrevista ao portal Porvir, ressaltou que, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 17,3 milhões de pessoas (com 2 anos ou mais de idade) com algum tipo de deficiência, o que corresponde a 8,4% da população. Já a Organização das Nações Unidas (ONU) registra 1 bilhão de habitantes no mundo com algum tipo de deficiência física ou intelectual.
A partir desse panorama e do desafio para a garantia de uma educação de qualidade a toda a população, a inclusão escolar de pessoas com deficiência, transtorno de desenvolvimento e altas habilidades nas escolas pode e deve ser promovida em diversos aspectos. Vejamos:
Estrutural, assegurando acessibilidade por meio de adaptações no espaço escolar, em salas de aula, banheiros, vias de circulação, artefatos e produtos, incluindo rampas, corrimões, pisos táteis, portas com vão livre, sinalização visual, sonora e tátil, elevador e tudo o que for necessário para garantir acesso a todos os estudantes em todos os espaços da escola, e sua locomoção segura e confortável.
Cultural, respeitando e valorizando a diversidade na escola, promovendo envolvimento, cooperação e relações respeitosas e inclusivas entre as pessoas.
Comunicacional, fazendo uso de múltiplas linguagens, modalidades e recursos para atender a todos. Por exemplo, materiais disponíveis em braille, com audiodescrição, fonte ampliada e outros cuidados tipográficos, para pessoas com deficiência visual, cegueira ou com baixa visão; em Libras (Língua Brasileira de Sinais), para pessoas com deficiência auditiva ou surdez, entre outros.
Pedagógica, buscando eliminar as barreiras e ampliar opções metodológicas de aprendizagem, tornando o currículo acessível a todos os estudantes por meio da utilização de diversos meios de apresentação do conteúdo, execução e expressão, engajamento e motivação para a realização diversificada de atividades e avaliações. Para saber mais sobre isso, pesquise sobre o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA).
Mais do que oferecer vagas, as escolas de educação básica devem proporcionar condições que favoreçam a garantia à aprendizagem de todas as pessoas, promovendo a efetiva inclusão para muito além da integração.
O uso de recursos educacionais digitais pode ampliar as oportunidades de aprendizagem e favorecer a inclusão de estudantes com diferentes necessidades. Isso envolve tanto a oferta de ferramentas e equipamentos que viabilizem o uso das Tecnologias Assistivas no cotidiano escolar, quanto a realização de formações que preparem educadoras e educadores para aplicá-las de maneira efetiva.
A tecnologia pode contribuir de várias formas: desde materiais, estratégias pedagógicas e aplicativos que facilitam o acesso a conteúdos, até a criação de objetos digitais de aprendizagem com possibilidades de personalização ágil. Nesse contexto, a Tecnologia Assistiva (TA) desempenha um papel essencial ao ampliar as condições de comunicação, mobilidade, autonomia, participação e qualidade de vida dos estudantes.
Exemplo disso são as impressoras 3D, capazes de produzir mapas e figuras geométricas tridimensionais, favorecendo a compreensão de conceitos abstratos. Algumas, inclusive, já permitem impressões em braille, tornando o conteúdo ainda mais acessível.
Entendemos que a inclusão, além de ser um direito, traz benefícios para a sociedade como um todo e por isso acreditamos que promover a inclusão escolar exige compromisso coletivo e ações consistentes. A tecnologia, quando utilizada de forma intencional e acessível, pode ser uma grande aliada nesse caminho, oferecendo meios para que cada estudante encontre condições reais de aprender, se desenvolver e participar plenamente da vida escolar. Afinal, construir uma escola inclusiva é também construir uma sociedade mais justa e equitativa.
Referências:
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GIL, M. É preciso entender a inclusão como um direito humano. Entrevista concedida a Ruam Oliveira. Porvir, 2022. Disponível em: https://porvir.org/e-preciso-entender-a-inclusao-como-um-direito-humano/. Acesso em: 13 out. 2022.
IBGE. Pesquisa nacional de saúde 2019: ciclos de vida. Governo Federal. Ministérios da Saúde e da Economia. 2021. Disponível em: https://www.pns.icict.fiocruz.br/wp-content/uploads/2021/12/liv101846.pdf Acesso em: 18 jan. 2023.
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